terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O valor da amizade


Ditaste as tuas regras. Criaste o teu mundo. Fizeste o que quiseste. Sexo, drogas, rock,... essa foi a tua vida. Aqueles que queriam ser teus amigos, tu rejeitaste por não terem nível suficiente para ti.
Começaste na faculdade a vender o corpo, a entregar-te de alma às fantasias daqueles que abusavam do teu corpo. Era o auge, o prazer do orgasmo que te elevava nas estrelas da noite fria, apenas quente num dos quartos de hotel ou no quarto da residencial de estudantes. Tudo isto para comprar um bocado de papel a diz seres doutora.
A verdade é que não querias o papel para nada, a não ser para atirar a areia que tapava os olhos dos teus pais, para estes gritassem ao mundo: “ A nossa filha é doutora!”.
Pobres pais que não sabem a vaca que tinham em casa.
Acabaste o curso, mas o sexo era o teu ganha-pão, o sustento do teu luxo, a garantia da tua ganância. Claro que seria impensável para ti ter uma vida respeitável, porque tu nem respeito por ti tinhas. Os teus amigos resumiam-se àqueles que te pagassem melhor. Os limites dos actos eram determinados pelo valor. Quanto mais alto fosse a quantia menos limites estipulavas.
Vendo bem as coisas o que te dava prazer era o dinheiro. O sexo era a celebração do pagamento.
Claro que a tua sede de dinheiro não parava. As drogas,... Elas entraram na tua vida. Mas ainda bem que não te consumiram a carne, somente a alma e o resto do amor que podia existir dentro de ti. Mataste muitos, sabias? Claro que sabias, afinal o mundo girava à tua volta. Estavas nas tintas para quem quer que fosse.
Tu, tu, tu... somente tu. Nada mais importava.
Até que um dia realmente importavas tu.
Foste ao médico saber o que tinhas na pele. Análise, portadoras de toda a verdade. O sangue que corria nas tuas veias confirmou: SIDA.
O mundo que criaste caiu. E agora que dinheiro te salvaria? Onde estão os teus clientes para pagar a tua salvação em troca de uma fugaz noite de sexo?
Agora viste o erro que cometeste. Agora viste a importância dos amigos que o dinheiro não compra. Agora viste que as desgraças também batem à tua porta.
O que fazer? Não temos a cura, mas tens a nossa amizade se assim quiseres. É verdade que nos desprezaste, que te riste da nossa pobreza, que ridicularizaste quem não trazia consigo a beleza física.
Mas sabes, são esses que estão dispostos a fazer os últimos dias da tua vida, os mais felizes que alguma vez terás.

2 comentários:

  1. Na fugacidade dos momentos que constroem a vida e na sua efemeridade há quem se perca... de uma forma ou de outra.
    Uma lição para ti, meu amigo que não ama * Muitos beijos e parabéns pelo texto *

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  2. "Ditaste as tuas regras. Criaste o teu mundo. Fizeste o que quiseste." - o texto está acusativo, responsabilizando-a sempre. Contudo não a deixa desamparada. Um pouco do valor da amizade reside nisso - em apontar sem piedade os erros, prevê-los e repreendê-los, mas estar sempre disposto a ajudar em tudo.
    Por vezes precisa-se de ter alguém ao lado que nos respeite como nós já o deixámos de fazer - mesmo quando não o merecemos...

    Espero que continues a escrever e a publicar o que escreves.

    Beijos,
    Sophia

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