terça-feira, 8 de junho de 2010

Moonlight

Passeava à beira mar. No horizonte do mar podia-se ver a lua a mirar-se nas águas a pentear os seus longos raios de luz hipnotizadores.


Na brisa fresca que corria descalça pelas dunas de areia, vinha o perfume de sereias encantadoras de homens fracos, débeis e carentes de amor.


Na colina, ao longe, erguia-se uma antiga mansão. Diziam os rapazes da aldeia ser assombrada pelo antigo proprietário. Uma triste história de amor que sobreviveu ao longo dos tempos na voz dos pescadores.


Contasse que por volta de 1850, um jovem rico, herdeiro das fortunas da sua família, apaixonou-se por uma jovem filha de pescadores. Secretamente, dirigia-se todos os dias de manhã cedo para a ver na praia, onde esperava o regresso do seu pai que vinha do alto mar com o barco carregado de peixe.


Todos os dias sem excepção, o jovem rico cruzava o seu olhar com os cabelos tapados pelo xaile que protegia a pele delicada da jovem.


Nunca reuniu coragem para dizer o que sentia, nunca reuniu coragem para chegar-se perto de tamanha beleza.


À noite, resumia-se a lembrar a imagem dos cabelos ruivos a ondular com o vento no ritmo das marés. Deitava-se no seu travesseiro e sonhava com os olhos azuis salgados e com os lábios cor de pêssego. Sonhava com a mão dela presa na dele a correrem descalços nas ondas enfraquecidas que tentavam passar a praia.


Foi um amor que viveu na sua mente apenas, nunca deixando que ele fugisse desse esconderijo.


Um dia, no seu passeio matinal, não viu a jovem. Passou outro e mais outro e não a viu mais. Ficou a saber através das frases soltas no vento que a bela jovem morrera de pneumonia. Fatal, nenhum médico a conseguiu curar, e os que podiam não o fizeram por não poderem ser pagos para tal.


Desgostoso, regressou à sua casa. Instalou-se na sua biblioteca e observava da janela a praia imaginado a sua amada.


Acabou por morrer passado algum tempo. Não de fome ou de doença, mas por remorsos de não ter tido coragem de dizer a quem amava a simples frase «amo-te».


A verdade, é que hoje em dia vejo tantos casamentos destruídos, famílias acabadas ou amores findados, apenas por não pronunciarem correctamente a palavra «amo-te». Não existe o tempo ideal para dizer a alguém que a amamos, todos os minutos contam para ser dita essa palavra simples e profunda. O relógio da vida não para.