quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A Dama da Rocha





Durante a noite descia a encosta para poder ver a lua a olhar-se no mar. A sua luz prateava a as águas que dançavam juntamente com a areia fina da praia. A brisa fresca que corria sobre as dunas, trazia consigo o cheiro salgado do mar. Era neste cenário que repousava após uma caminhada, permitindo aos meus olhos o prazer de olhar a lua.

Mas a lua não era o motivo pelo qual me derigia todas as noites para aquele lugar. Contava o meu avô que todas as noites de lua cheia, sob a rocha que se encontrava a cerca de 300 metros da praia cercada pelo mar, aparecia o fantasma de uma dama muito bonita de costas para a praia olhando o horizonte do mar.

Dizia o meu avô que se ouvia o seu chorar. Tinha sido deixada ali pelo comandante de um navio pirata antes de iniciar uma batalha naval. O capitão deixou a sua amada sob a rocha com medo de que esta morresse durante a batalha, prometendo-lhe que voltaria dentro de uma semana, deixando-lhe alimentos suficientes e agasalhos.

Passou uma semana e o capitão não regressou. Na aldeia chegou a notícia de que o barco pirata havia sido afundado juntamente com a tripulação. Os pescadores da aldeia tentaram trazer a jovem de volta para terra, mas esta se recusavam, pois não acreditava no que lhe diziam. Acabou por morrer.

Hoje em dia, muitos pescadores juram que a viram sob a mesma rocha de pé, esperando o seu amado.

Eu nunca vi, mas espero um dia poder ver com os meus olhos. Mesmo que seja mentira, a criança que há em mim, a lembrança, precisa de se manter viva. E para isso nada melhor do que viver o que muitos não acreditam.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ligação: Amor


Aconteceu que encontrei-me num local luminoso. Tudo era luz. Não havia espaço para um sombra, porque tudo o que ali existia era luz. Não me recordava de nada. De absolutamente nada. Como tinha ido ali parar? O que me tinha acontecido? Onde estava?

Esta absolutamente vazio de tudo. A minha memória parecia ter sido apagada para sempre de todas as lembranças que possuía.

Tinha também um aspecto luminoso e brilhante. Ao invés das tradicionais roupas que vestia no meu dia a dia, estava agora vestido com uma túnica branca. Os meus cabelos estavam brancos como a neve e compridos e os meus olhos estavam iluminados por um azul celestial.

Sem saber como, surgiu ao meu lado um ser iluminado. Um ser em que não se conseguia ver o aspecto devido à luz que emanava dele. Todo ele luzia da cabeça aos pés. Quem e o que seria ele?

Perguntei-lhe quem era e que lugar era este. Ele respondeu-me que estava no Lugar Eterno e que ele era um dos muitos mestres que recebia as almas que ali chegavam.

As almas? Era a pergunta que agora ecoava na minha cabeça. Isso queria dizer que tinha morrido.

Não precisei de lhe perguntar mais nada, pois aquele ser parecia saber tudo o que eu ia perguntar.

Disse-me que não tinha morrido, que apenas tinha concluído um ciclo de aprendizagem na terra. Fiquei ainda mais abismado. Novamente me disse que teria que beber a água da fonte que se encontrava ali para me recordar de tudo.

Bebi da água e automaticamente me recordei. Recordei-me de tudo e das outras vidas que tinha vivido. Recordei-me de viver em Roma, de ser um habitante da floresta, de ser um professor de história e da minha última vida, um advogado. Com isso recordei-me também da minha mulher e do meu filho e do acidente de automóvel que tivemos. Eu morri fisicamente nesse acidente. Fomos abalrroados por um camião sem travões.

Senti-me triste nesse momento e perguntei ao ser o que tinha acontecido à minha mulher e ao meu filho. O ser disse que não era necessário me preocupar, porque a minha ligação com eles tinha se quebrado, estavamos em mundo diferentes.

Mas eu não acreditei. Recusei-me a acreditar. Sabia que ainda estavamos ligados, que ainda havia uma ligação entre nós.

O ser conduziu-me ao interior de uma espécie de capela, mas diferente. Não havia lugares para se sentar, mas existia um trono com um ser ainda mais ilumidado. Será Deus pensei eu. De novo uma resposta, era o mestre, aquele que instruía as almas e analisava se a lição fora aprendida.

Detive-me diante dele. O mestre falou e disse que a minha fase de aprendizagem estava completa e que agora iria evoluir para outro estado.

Naquele momento tudo fazia como não fazia sentido. A minha cabeça estava ainda confusa. Porque apesar de me lembrar da vida terrena, não me recordava nunca de ali ter estado.

Nisto a porta abriu-se novamente, entrava outro ser ilumidado e com ele vinha duas almas. O aspecto delas era igual ao meu. Mas no fundo eu reconhecia. Era a minha mulher e o meu filho. Também tinha morrido. Corremos os três para nos abraçarmos.

Enquanto nos abraçavamos o mestre suavemente ergueu a voz e disse que o meu filho teria que regressar, que ainda não havia concluído a sua aprendizagem. Olhamos uns para os outros. E assentimos com a cabeça.

Eu e a minha mulher iamos agora evoluir, fosse o que fosse. O meu filho reencarnaria. Mas tinha a certeza que o nosso elo familiar se manteria ligado eternamente.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Perfume do teu amor


Foi-se o cheiro, acabou. Acabou aquele suave aroma que pairava todos os dias de manhã quando acordava. Quer fosse numa manhã de sol ou num manhã do mais denso nevoeiro, o teu cheiro lá estava para me entupir as narinas e aromatizar o meu coração. O teu cheiro era o cheiro do amor.
Cheirava a rosas, cheirava a frutos silvestres, cheirava a doces, cheirava a terra depois da chuva, cheirava a floresta, cheirava ao mar, cheirava à areia, cheira ao Paraíso, cheirava... cheirava... cheirava..., mas deixou de cheirar.
Deixou de cheirar todas as manhãs de Inverno, deixou de cheirar todas as manhãs de Primavera, deixou de cheirar todas manhãs de Verão, deixou de cheirar todas as manhãs de Outono. Culpa minha? Culpa tua? A culpa não é de ninguém!
O ciclo da vida é assim! Estava na hora de te juntares aos teus familiares que também partiram. Em breve também farei essa viagem. Como sinto falta do teu cheiro. Cheiro que durante uma vida nunca me faltou desde que estou contigo. Agora foste exalar esse cheiro para outro lado. Tenho esperança de o voltar a cheirar novamente o teu perfume.
No dia do teu funeral, lá estavas tu a exalar esse cheiro. Tiveste uma vida digna. Todos à tua volta choravam e tu... tu sorrias e perfumavas a capela. Até hoje, quando visitava o teu jazigo, as flores que lá nasceram tinham o teu perfume. Consolava-me a alma.
Agora estou aqui deitado. Sinto que a morte se aproxima.
Sinto, porque sinto o teu cheiro. Tenho a certeza que me vens buscar para perto de ti, para voltar a sentir o teu perfume. Estou a abandonar o meu corpo. O teu cheiro é perceptível. Posso ver-te, posso sentir-te, posso cheirar-te. Parto com alegria, por saber que os nossos filhos possuem a essência desse teu perfume dentro deles.
Vou poder descansar agora, com o perfume do teu Amor.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A maldição do tesouro pirata



Acho muito relaxante descer a encosta que leva até à praia. Lá fico deitado a olhar as estrelas e a lua. Fico horas a olhar e a imaginar o universo. Quem terá feito aquilo? Não acredio que tenha sido obra do acaso, é impossível.

Naquela praia ouvi muitas histórias, de como os habitantes pilhavam os navios que vinham da India com os tesouros fabulosos. Ao invés de colocarem as fogeiras que orientavam os navios no nevoeio perto da costa, colocavam afastada da costa de modo a que estes encalhassem nas rochas e podessem assaltar o navio.

O meu avô contou-me que certa vez um navio encalhou, mas não era um navio qulquer. Era um navio fantasma. Quando os homens invadiram o navio, não encontraram ninguém. Procuraram no seu interior os tesouros e encontraram um baú.

No baú dizia para que não abrissem, pois libertariam uma maldição. Mas a ganância falou mais alto e então, a aldeia ficou assombrada pelos espírtos dos piratas que estavam aprisionados no baú.

Todos pensavam que estavam condenados.

Até um dos fantasmas dos piratas se apaixonou por uma das jovens que ali vivia. A jovem também se apaixonou por ele. No entanto o amor de ambos era separado pela morte.

Ambos queria ficar juntos para sempre. Até o amor da jovem fê-la cometer o suicídio. O pirata ficou triste, porque apesar de que queria a ter com ele, não queria que ela abdicasse da sua vida.

O que se passou então foi imcompreensivel. Todos os outros fantasmas eram sugados de volta para o baú. Apenas os fantasmas enamorados ficaram ali.

Até hoje ninguém percebeu o que se passou.

Eu tenho a minha versão. É possível que quando ele assimiu que não queria que a jovem sacríficasse a sua vida por ele, apesar de ser a sua vontade, quebrou o elo de maldição que o prendia à sua ganância. Assim, porque ele rejeitou os seus sentimentos e a jovem se sacrificou pelo amor, criou uma força tão forte que libertou a aldeia daquela maldição.

O barco fora queimado juntamente com o ouro.

Contasse que até hoje o tesouro está submersso nas águas que banham o mar da aldeia.

Para mim o maior tesouro que está naquelas águas é o reflexo d céu à noite.

Dança à Lua


Gabriel era um arqueólogo que se encontrava no Egipto a estudar uns túmulos recém encontrados. Fazia dez anos que era arqueólogo e pelo facto de trabalhar sempre debaixo de sol tinha uma pele morena, o que contrastava com os seu olhos verdes claros.
Como sempre os seus amigos iam para os bares ver as danças do ventre. Chegavam sempre embriagados ao acampamento. Gabriel, por sua vez, limitava-se a observar as estrelas do deserto e a escrever no seu diário de viagem.
Certa noite decidiu deixar o acampamento e caminhar na cidade. Não entrou em nenhum bar, apenas se limitou a vagear pelas ruas tortuosas. À noite a cidade nem parecia a mesma. As tendas dos vendedores estavam recolhidas e o único som era o do vento quente a passar pelas ruas.
O silêncio foi quebrado. Baixinho começou a ouvir um suave murmurar. De onde viria aquele doce murmurio? Começou a seguir o som para ver a onde o levava.
Numa das ruas, no final, pode ver uma jovem que ensaiava uma dança na varanda. Era uma jovem morena de olhos verdes esmeralda que dançava uma dança do véu. Uma dança nupcial.
Gabriel sentou-se num dos caixotes vazios a ver a bela jovem que rodopiava e se curvava como uma folha ao vento. A meia luz das velas acessas no interior da casa debaixo do céu de lua cheia estrelado dava um ar místico-romantico juntamente com o cheiro a jasmim que pairava no ar.
Nisto a jovem parou. Vira que Gabriel estava a vê-la. Ficou parada durante um tempo. Gabriel levantou-se e aproximou-se mais. Ela com desconfiança reiniciou a dança.
Durante algum tempo ela dançou para ele. Até que chegou um momento que ela parou de dançar novamente. Entrou em casa.
Gabriel baixou a cabeça e seguiu caminho. Nem teve tempo de saber o nome.
Enquanto caminhava debaixo da varanda, uma flor caiu aos seus pés. A flor era Jasmim.
Gabriel olhou para cima. Estava a jovem que enviava um beijo da palma da sua mão. Ele entendeu que ela se chamava Jasmim.
Quando chegou ao acampamento, pegou no seu diário de viagem e desenhou a jovem a dançar. Juntou na mesma página a flor para que nunca mais se esquece-se.