quinta-feira, 5 de junho de 2008

Voar para a Vida



De nada serviam os avisos que existiam na falésia, que era constantemente atacada pelo mar. Talvez não fosse um descuido as mortes que ali aconteciam. Muito provável que alguém sem mais motivos para viver, se lançava do alto e mergulhava no mar.
Uma vez em queda, já não havia salvação possível. Como seria a sensação de voar para a morte? Seria liberdade, ou arrependimento. Será que naquele momento, ates de morrer, a vida lhe passaria diante dos olhos? De que se lembraria? Das coisas boas, ou das coisas más?
O impulso que precipitava a pessoa a morte seria na verdade mais forte que a sua vontade de viver. Mas o que é certo é que ele também só é mais forte porque a Morte, no momento, é a única presente a apoiar a decisão.
E se naquele momento estivesse um amigo presente a apoiar a viver? E se naquele momento estivesse um pai a perdoar o filho por ter entrado no mundo das drogas e disposto a ajudá-lo? E se tivesse o filho que depois de uma vida construída às custas do suor de uma mãe e dizer para não ficar sozinha e viver com ele?
Seria nesse momento a Morte mais forte que o Amor?
As respostas concretas não existem, nem nunca existiram. Mas existem certamente oportunidades. Oportunidades de estender a mão a um amigo, um familiar ou até mesmo um desconhecido, e mostrar que o certo é viver, que procurar a morte é covardia e não é a última solução para os problemas. Deixar o ódio e a ganância de lado e perceber que do pó viemos e ao pó voltaremos.
Ninguém é melhor do que alguém, ou pior. Dependemos uns dos outros, dependemos do amor uns dos outros. Porque razão passarmos numa rua e deixar uma moeda a um mendigo, se podemos lhe dar um prato quente e um sorriso e dizer: “Levanta-te, a luta ainda não acabou. Podes mudar o rumo da tua vida!”.
Pensando desta forma, acho que não me vou atirar desta falésia. Afinal a minha vida tem sentido. Posso não ter jeito para trabalhar computadores, para escrever uma simples carta, para jogar futebol, mas tenho jeito para amar. Para estender a mão a uma pessoa e dizer: “Vamos lutar juntos pela vida!”.
Afinal o Amor pode ser mais forte que a Morte, quando nós acreditamos nele.

1 comentário:

  1. "Como seria a sensação de voar para a morte?" - gostei da forma como começaste o texto, partindo depois para um mar de hipóteses.
    É um assunto muito complexo - quando o instinto de sobrevivência inerente ao nosso lado animal é suplantado pelo desespero que só a humanidade pode sentir. É mais fácil o mecanismo desregular do que encontrar um sentido para a vida.
    Concordo: "Afinal o Amor pode ser mais forte que a Morte...", contudo acho que infelizmente não depende só de acreditar ou não nele...

    Beijos,
    Sophia

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